sexta-feira, 2 de julho de 2010

Conto.

Era uma noite fria, tão fria que, até a escadaria do prédio estava gelada, estava tudo tão gelado que, mesmo subindo os 15 andares de escada, meu corpo não parecia capaz de suar, o corrimão, parecia ser feito de gelo.
Eu não sei o que incomodava mais, o frio do ambiente, meu coração batendo de forma maníaca ou o embrulho do meu estômago.
Eu tive certeza quando alcancei a porta, sabia que através dela eu encontraria o que eu estava procurando, meu coração juntava a emoção do que estava por vir com o exercício para alguém fora de forma,como eu estava.
Eu alcancei a maçaneta, então, prendendo o ar dentro de meus pulmões, o único som que eu podia ouvir era o do tambor que havia tomado o lugar do meu coração... Abri a porta.
A noite estava barulhenta, os sons das ambulâncias e dos carros enfeitavam o fundo como trilha sonora, o céu estava claro, a lua parecia ter ligado um foco naquele telhado, junto ao parapeito eu pude vê-la.
O cabelo escuro estava bagunçado e tinha um contraste com o vestido vermelho que ela usava, seus olhos verdes estavam mareados, sua maquiagem toda borrada e suas bochechas, outrora brancas, estavam escarlate.
Pra quem a visse de fora, ela podia parecer uma louca, mas pra mim, eu nunca a tinha visto tão linda.
Ela virou, seus olhos se encontraram com os meus, aparentemente, meu corpo não podia produzir movimentos, eu tinha medo de que se algo se mexesse quebraria a mágica do momento. Eu estava enganado, o momento seguinte, e os que se decorreram após eram capazes de serem mais mágicos.
Caminhamos um em direção ao outro, estávamos juntos naquele abraço, podíamos sentir nossos corações, os movimentos de sístole e diástole estavam sincronizados.
- Depois de tanto tempo. – Sussurrei.
Ela apenas ficou lá, me abraçado, seus braços envolvidos em mim, eu me sentia seguro, e mesmo com a temperatura fria, eu me sentia aquecido, como se o simples fato de estarmos juntos podia transformar aquela noite de inverno em uma noite quente de verão.
- Eu senti sua falta. – Ela disse, finalmente saindo do estado de transe, sua voz era doce, porém percebia-se uma tristeza. – Aconteceu tudo tão rápido...
- Shhh! – Eu a interrompi. – Você não precisa me falar, teremos tempo para isso mais tarde.
- Eu senti saudades dessa sua capacidade de me compreender melhor do que eu mesma.
Eu e ela caminhamos até uma parede próxima e sentamos no chão.
- Aqui. – Disse eu, tirando uma pequena caixa do bolso interno do meu casaco.
Ela abriu devagar e de um modo suave.
Ao desembrulhar, tirou a pequena rosa de dentro.
- A rosa. – Disse ela me olhando de modo profundo, mas, ao mesmo tempo, revigorada, como se aquela pequena rosa fosse um bálsamo para a alma dela.
- Tem mais. – Eu disse, indicando algo que ainda estava dentro da caixinha.
- O meu colar. – Disse ela de forma lenta e surpresa.
Um arrepio cobriu minha pele, talvez fosse uma faísca, uma faísca de uma antiga chama que voltava a ascender.
- Eu só queria... – Comecei a falar, mas fui interrompido.
- Teremos tempo mais tarde... – Disse ela, colocando em seus lábios um singelo sorrido e depois, a única coisa que tive certeza foi de sentir o gosto adocicado dela em minha boca.
Ao longe, os primeiros raios de sol quebravam o escuro daquela noite.

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