quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

conto de natal

Era uma noite escura e gelada, a neve caía forte, e o vento soprava com tanta força que os enfeites da porta da loja já haviam caído umas três vezes. O dono, nas duas primeiras os ajeitou, mas quando caiu pela última vez, resolveu deixá-los lá.
Por trás da vitrine estavam expostos alguns brinquedos, um ursinho marrom com calças azul com bolinhas brancas que tinha um remendo no lugar do olho direito, uma boneca de vestido vermelho com branco que havia sido costurada com o sorriso de cabeça pra baixo, uma bailarina gordinha e um pierrô que, por mais que girasse a manivela, não saía de sua caixa.
Acima desses brinquedos havia um velho cartaz que dizia: A Ilha dos Brinquedos Desajustados.
O relógio no alto tocou indicando que já eram nove horas da noite.
O silêncio pairava sobre a loja, nada se mexia, até que...
- Uaaaaah. – Bocejou o ursinho.
- Até que enfim, já estava cansada de ter que ficar tão parada! – Exclamou a boneca.
- Quando se é um brinquedo tem que se acostumar a ficar parado por muito tempo. – Disse a bailarina.
- Mesmo assim, já estava cansada.
- Pessoal... – Disse o Pierro saindo de dentro de sua caixinha bem devagar. – Vocês sabem que dia é hoje?
- É véspera de Natal... – Disse o ursinho.
- Mais um ano se passou, e nós continuamos aqui, sem poder dar alegria que os brinquedos podem dar as crianças... – falou a bailarina murchando.
- Não seja pessimista! – Exclamou o ursinho.
- Por que não posso ser? Desde que o filho do Dono da loja morreu, todos os brinquedos dessa loja perderam sua magia, é uma questão de tempo até que percamos a nossa! – Choramingou a boneca.
- Ainda há esperança... – tentou falar o ursinho.
- Que criança no mundo vai de querer uma bailarina gorda? – Disse a bailarina. – Ou um Pierro que tem medo de crianças e nunca sai da caixa, ou uma boneca que não sorri? Ursinho, compreenda que você é o único que ainda pode ter um concerto, basta achar um botão e costurar e pronto, terá seu olho de volta! Mas nós? Nós somos casos perdidos. – Disse a bailarina fazendo uma pirueta e ficando de costas para os amigos.
- Ela tem razão! – Exclamou o Pierro. – Afinal, que criança vai nos querer...
Um momento de silêncio pairou entre os brinquedos, o único som era vindo dos soluços da boneca que chorava no seu canto.
Então, o ursinho se manifestou:
Embora eu seja aquele com o olho a menos, os cegos aqui são vocês, se vocês pudessem ver o que eu vejo... Não há bailarina no mundo que dê mais piruetas que você! Quem liga se você é feita com um pouco mais de material, o que importa é o seu talento! E você Pierro? Quantas vezes não morremos de rir de suas piadas, se você apenas parasse com esse seu medo, se você enfrentasse, talvez visse o quanto você pode passar felicidade... E você, boneca? Todas as bonecas do mundo vêm com um sorriso estampado na cara, você não! Você consegue mostrar pras pessoas que elas podem ter outros momentos, que existem outras emoções, você demonstra que há diferença!
Após a manifestação do ursinho os quatro brinquedos, entre lágrimas e sorrisos se abraçaram.
Uma batida muito forte veio da porta, os quatro brinquedos mantiveram o abraço, como se quisessem se proteger. Uma batida veio novamente, depois outra e mais outra. Cada uma mais forte que a anterior até que, de repente, parou.
Então, o dono da loja veio correndo de seu quartinho até a entrada, olhou pelo olho mágico da porta, então a abriu.
Um menininho havia desmaiado e uma menininha estava ao seu lado choramingando.
O dono os trouxe para dentro, trancou novamente a porta, ascendeu às luzes e preparou um chá.
Os pobres garotos estavam roxos de tanto frio.
O Dono da loja cuidou do pobre menino, vestiu-o com roupas quentes e acalmou a menina.
Quando passava da uma da manhã, o menino recuperou a consciência.
- O-onde eu estou? – gaguejou o menino.
- Está a salvo. – Disse o Dono. – De onde vocês são garotos? Onde estão seus pais?
- Nós não temos pais, fomos criados em um orfanato! Por favor, senhor, não nos leve pra lá de novo, lá é um lugar muito ruim! Por favor! – Mesmo com a voz fraquinha, o menino pedia aquilo com força, como se sua vida dependesse do Dono.
O Dono da loja olhou bem no fundo dos olhos do menino, uma pequena lágrima escorreu dos grandes olhos azuis do dono. Então, ele resolveu adotar o menino.
- Bem, vocês podem ficar, meus filhos. – Disse o Dono. – Bem, já que agora sou seu pai e já que também é véspera de natal, acho que eu devo dar seus presentes, não é?
- Presentes? – Os dois exclamaram!
O Dono da loja pegou os quatro brinquedos da Ilha e deu para os filhos.
- Eles são meio desajustados...
- Eles são perfeitos. – Disseram as crianças. – E com um sorriso todos se abraçaram, e mesmo naquela noite fria de natal, sentiram o calor de uma família.

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